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Ainda não.

por Pedro Ramos, em 18.08.22

 

Ainda não estou lá. Ainda não cheguei. Vinte e seis anos. Vejo que andas perto, fico um pouco mais feliz. Eu ainda não. Persisto acumulando distância e gerúndios. A mesma chuva molha-me todos os dias de maneiras diferentes. Não seco a roupa: queimo-a. O mesmo pedirei que façam um dia com a minha pele. Sinto a morte roçar-se a mim numa sensualidade profunda. Sinto abismos. Vejo-te melhor, isto é, sem mim, como esfregar os olhos depois de acordar. Aposto que te sentes como esfregar os olhos depois de acordar. A minha miopia não a curam lentes. In do lentes me trazem, antes, os caminhos, as lonjuras do hábito, o raio que os parta a todos. Eu quero o meu quintal, as minhas flores, os meus filhos. Ainda não estou lá. Ainda não cheguei. 

 

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