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Corri em Lisboa pela primeira vez. Foi para apanhar o autocarro para ir ter contigo. Acho que deves saber que essa verdade mora aqui, alheia ao fingimento. Não penses que escreverei sempre. A pena pesa mais do que um destino. Corri em Lisboa para te ver outra vez. Estava um vento impossível. É justo que conheças estas transparências.
On repeat: Corre corre, Los Hermanos. Ah, é madrugada, mas não vem ninguém / de longe eu vejo o temporal. Uma limpa solidão de bandeira ao vento, bem diferente da velha mágoa soturna do abandono. Eu cresço dentro da tristeza, o meu bisturi arrasa-lhe as entranhas fundas. A linda arquitetura dos órgãos e das sombras, das fibras musculares e nervosas, dos nossos desiquilíbrios neuroquímicos.
Uma cabeça onde cabe tanta coisa: os pensamentos, a razão, a filosofia, a grande tristeza do mundo, o desmoronar dos glaciares, o sabor de um gelado, a música, as leis, a espuma da cerveja, o sabor da cereja, as curvas áridas onde alguém sonha morrer-se.
Perco-me na geografia, entre sei-lá-eu-quantas-colinas, em que Alfama espalharei má fama, em que morro morro? Miradouro era quando o meu avô levava o farnel para a vinha e ficávamos juntos, encostados a um muro de pedra seca, a respirar o mesmo ar.
Nenhum dos comboios para Antuérpia faz paragem no teu coração.
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