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À tona das coisas materiais permanece uma impressão mental, que é como uma propriedade física dos objetos, uma memória que lhes faz raiz e movimento. Aqui esteve a mão dele, confessa um livro empoeirado. Aqui se sentou ela, relaxa a poltrona num suspiro lento, soltando átomos de uma conversa amiga. Estes são restos do que aconteceu, impercetíveis por vezes, sempre um desafio à sensibilidade e ao gosto. A lente que permite vê-los é de grande amargura: olhos atentos súbito submergem, observando tudo, e em cada canto uma nova recordação da vivência dos espaços. Aqui respirei, penso. E todas as coisas do mundo ganham corpo.
Parece insustentável que a humanidade persista. Uma vida diária que se acumula como pó, impossível de limpar, tempo sobre tempo sobre tempo numa vertigem que esgana o pescoço do desassossego, sôfrego, a ver se sobra um pouco de luz ao fim do dia, uma candeia que alumie o rosto de um filho ou o sabor quente do vinho no final do trago. I always wanted to die clean and pretty, canta um anjo através da voz de Mitski, no desejo universal do apagamento.
Existe um direito fundamental de não participação. O fumo trepa as paredes de um bar enquanto tudo se agita e remexe na pista dos dias. Agradeço, mas não quero. Talvez depois.
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